Feliz Natal? Só se for para si
Ou se gosta ou se odeia. Não conheço ninguém que suporte ou goste assim-assim do Natal. O Natal toca-nos a todos. Seja pelas luzes e enfeites nas ruas, seja pelas propagandas publicitárias ou conversas de café.
Não se escapa ao Natal, mesmo que o país se diga laico.
O Natal é o momento em que todos os problemas corriqueiros se varrem da nossa cabeça para que possam dar espaço a outros problemas não menos corriqueiros.
Antes do Natal, temos invariavelmente o peditório da Liga Portuguesa Contra o Cancro em novembro. Em dezembro a campanha de recolha de alimentos do Banco Alimentar. Estamos mais sensíveis e mais generosos. Ajudamos e vamos entrando no espírito de Natal.
Natal é estar com a família. É partilhar e comemorar mais um ano. É abrir presentes e descobrir, pelo nível de pirosice ou pelo teor da sofisticação, o autor da dádiva. Talvez por isso, há uns anos, se tenha imposto etiquetas nos presentes e criado assim uma forma de gerir expectativas e, certamente, evitar que a honestidade se pregue à nossa cara.
No Natal, há discussões na família, contam-me. Na minha, estranhamente, nunca houve, talvez porque andemos de facto mais anestesiados pelas imposições do advento. Mas há gritos de alegria. Ou havia.
Natal é brindar, comer doces, bacalhau e peru recheado. É altura de mesas fartas, mesmo nas casas mais humildes, fruto da inter-ajuda inerente à existência do ser humano - e que é bem explorada por todos nesta altura do ano.
Mas este Natal será diferente. É o primeiro Natal sem a minha mãe e sem a mãe da minha mãe. Perdi duas mães em 2023. É impossível haver Natal.
Não há mesa farta, presentes, brindes ou espírito que possa atenuar a dor de quem sofre duas perdas tão significativas.
Este é o primeiro Natal sem Natal. A minha mãe era o meu Natal.
Feliz Natal? Só se for para si.
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