quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Síria já não é do Presidente que quer matar o seu povo

A Síria de hoje não é a Síria de ontem, nem a Síria de amanhã.

A Síria que eu conheci já não existe. A Síria do Bashar al-Assad, do medo, da censura, da conversa de café interrompida, do poster em cada rua, esquina e parede acabou. Para mim e para os sírios.
E o mundo - que vergonha! Rússia e China - está do lado dos sírios.

Homs, Aleppo, Hama, mas principalmente Homs, têm sido bombardeadas. Famílias inteiras despedaçadas por tiros mecânicos. A cada 15 minutos, uma explosão. Pessoas com alma, mas sem vida.

Bombas, morteiros, atiradores escondidos, canhões, armas de grande calibre. Aviões-caça.
Pessoas estendidas no chão, vídeos com desespero e impotência; a raiva, o ódio e a glória; o pedido de ajuda: Olhem para nós, vejam o que nos está a acontecer!
A súplica por uma ajuda que não chega. Que nunca mais chega.

Palmyra, 2009
Oasis. A aridez, o pôr-do-sol, o castelo, as ruas direitas, as avenidas traçadas a régua e esquadro, a calma, a antiguidade, a história, os pilares, os amarelos e os vermelhos, a cor da terra. A paz. O nascer do sol, visto com a Cláudia. O frio da madrugada. O calor abrasador das 12h00.

Já no hotel, não vou revelar o nome. Recordo-me com clara nitidez do dono e do filho do dono. Era Setembro, estávamos no Ramadão. O filho não era casado. Namorou, quando estudou na Europa.

Ao lado do balcão na receção, o poster. A cara de um regime com 40 anos. A dinastia Assad ali representada, com o segundo e último cromo da caderneta. O discípulo em regência: Bashar al-Assad.

"Nós odiamo-lo, mas se aquela imagem não estiver aqui, fecham-nos isto". "Ele e os dele roubam-nos todos os dias. Enganam-nos. Querem-nos sem escola, sem educação, para nos enganarem ainda mais. Para nos manterem na ignorância."

"São corruptos." Segundos depois, "mas eu sei que há um mundo lá fora."

Esta Síria já não existe. Os sírios de hoje mudam as placas dos nomes das praças. Querem impor a transição também pela toponímia. Não têm medo. Falam, saem à rua e lutam. Querem ser os heróis. Morrem pela liberdade. Arrancaram o poster. Querem ser eles a fazer a sua história! Querem Democracia.

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