terça-feira, 29 de maio de 2012

Salada mista

Conhecem aquele senhor que diz: não sei se chore, não sei se ria, não sei se fique, não sei se vá, não sei se fale, não sei se me cale e por aí fora?
Pronto, é mais ou menos isso.
Deixar o país que me acolheu durante três meses está mais perto do que nunca. É de sexta-feira a oito dias.

Feliz por voltar ao colo da mãe, à família, aos amigos, ao meu trabalho. Aos meus colegas e amigos. Feliz por ter gostado. Feliz por ter livrado a mente de mil preconceitos. Feliz por ter concretizado o sonho de viver na Alemanha.

Triste por tudo isto estar a acabar.
Triste por pensar que pode ficar tudo por aqui.
Triste por ter a certeza que o provável é nunca mais voltar a cruzar-me com algumas destas pessoas.

Aprendi, como aprenderia em Portugal. Aprender é o meu dia-a-dia.
Gostei das amizades que travei, gosto daquelas que vão ficar para sempre. Gostei da redação e do carinho com o qual fui recebido. Senti-me integrado desde o primeiro dia! Obrigado.

Gostei de praticar o meu Brasileirês e de quase ser bilingüe, né galera?!

A temperatura amena ajudou-me a pensar mais com o coração, menos com o fígado. Tudo custou menos. O cérebro deu menos voltas para atingir o ponto.
As alergias não apareceram, sabiam?
Este país é, de certa forma, o meu país. Fica cá parte de mim.
Gosto da língua. Difícil. É por isso que gosto dela.

Lisboa, aguarda o meu regresso! Portugal, estou a chegar. Apesar de tudo, acho que agora vou saber viver-vos com mais carinho, com outro encanto.

Acho que entretanto o meu discurso ficou incongruente. Quase de emigrante. Mas é assim que me sinto: impróprio, improporcional, incoerente, mas feliz e triste; triste, feliz.

Enfim, é como explica o título deste blogue: Cá e Lá.

Não sou cidadão do mundo? Bem, não quero começar com filosofias... Esta frase é tão cliché, tão lugar comum e tão vaga e vulgar ao mesmo tempo que nem me apetecia reescrevê-la aqui. No fundo, só queria explicar que quero voltar e regressar aos meus pontos de partida sempre que quiser. Quando me apetecer.

Vou estar lá, com um pé cá, outro lá, com o pensamento lá e cá. Mas lá. Ou cá.
Pronto, vá, é hora de dormir e depois disto, como diria o meu irmão mais novo, "O teu cérebro 'tá a fritar!"

P.S. Artur, acabas de chegar à família. Bem-vindo! Vais ser, com certeza, bem tratado por todos. Sê feliz, estamos todos cá para isso. 

sábado, 19 de maio de 2012

O habitat de ninguém

Impressiona.
Entre 1936 e 1945 mais de 200 mil pessoas passaram por aqui. Muitas não voltaram a sair.
Sachsenhausen Oranienburg era um dos campos de concentração mais pequenos.
Als die Nazis die Kommunisten holten, habe ich geschwiegen;
Ich war ja kein Kommunist. 
Als sie die Sozialdemokraten einsperrten, habe ich geschwiegen; ich war ja kein Sozialdemokrat. 
Als sie die Gewerkschafter holten, habe ich geschwiegen; ich war ja kein Gewerkschafter. 
Als sie die Juden holten, habe ich geschwiegen, ich war ja kein Jude. 
Als sie mich holten, gab es keinen mehr, der protestieren konnte


Martin Niemöller

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sexta-feira, 18 de maio de 2012

Berlin, du bist wunderbar

Fui de bolei. A 230km/h. Não deu para apreciar a paisagem. Fez calor pela primeira vez na Alemanha desde que cheguei cá. Estive de manga arregaçada, a martirizar-me por não ter posto mangas-curtas na mala.

Nessa noite, houve direito a discoteca no 12º andar de um prédio com vista para a Alexanderplatz. Com boa companhia, claro. Muito boa.

Comeu-se bem, andou-se bem, viu-se tudo, ou quase tudo, do que vem nos guias, nestes dias em Berlim. Faltou sentir a cidade com tempo para apreciar em pormenor o sui generis modus-vivendi dos berlinenses.

Tal como expliquei à Carlota, o estereótipo é o seguinte: o normal é serem anormais e, portanto, como querem ser todos diferentes acabam por ser todos iguais. É o estilo. Eu chamo-lhes anormais, mas é com carinho.

No segundo dia (ou primeiro dia com luz), houve tempo para Reichstag, Tiergarten, Denkmal für die ermordeten Juden Europas, Homosexuellen Denkmal, Siegessäule, Zoologischergarten.

Experimentámos as tão bem-fadadas miniaturas da comida típica alemã no restaurante Die Schule, na Kastanienalle, à hora do almoço. Boas e saborosas. Mas o melhor restaurante foi mesmo o do último dia. Não me recordo do nome! (Ajuda!)

Depois do almoço, rumámos ao Flohmarkt; pelo meio fomos convidados por miúdos de 8 anos a entrar num mercado improvisado no pátio de um prédio. Muita quinquilharia, brinquedos pela metade e uma criança que insistentemente perguntava: Hast du Hunger?


Passeou-se pelo Nikolaiviertel, pelo Spree, atravessámos a ilha dos museus e rumámos ao edifício Tacheles. É Berlim no seu estado puro.

E porque o dia foi mesmo para acabar com a sola dos sapatos apanhámos um S-Bahn e fomos para o outro lado da cidade ver a zona mais bem conservada do Muro de Berlim - o East Side Gallery.

Jantámos no Sony Center am Potsdamerplatz (mais uma vez do outro lado da cidade). No restaurante, uma máquina destiladora de cerveja (?) fez as delícias da enóloga de serviço.

E porque não estávamos - de todo - cansados fomos até às portas de Brandeburgo, percorremos a Unten den Linden até à Alexanderplatz e recolhemos à Praça da Rosinha do Luxemburgo, onde estávamos hospedados, que é como quem diz Rosa-Luxemburg-Platz. Por falar nesta distinta empregada doméstica portuguesa que emigrou para o Luxemburgo para limpar retretes, aqui fica a sua biografia.

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Um Escaldão na Alemanha

É o título da curta-metragem de ontem.

Aproveitei o feriado - Christi Himmelfahrt ou Ascenção de Cristo - e fui dar um passeio de barco pelo Reno. O povo a passar o protector solar no convés e o menino Nuno na maior. Armado em esperto.
O que vale é que os óculos à mosca me protegeram a parte superior das bochechas. O nariz - que já se tornou insensível - está vermelho, mas não dói.

O destino foi Konigswinter, uma pequena localidade do outro lado da margem do Reno, a poucos quilómetros de Bona.

E lá ia eu com o cabelo ao vento, a snifar o pólen que paira no ar de Bona, armado em turista. Que até sou.

Chegado ao destino e já depois do almoço - turco - subi a montanha em direção ao Schloss Drachenburg, em Drachenfels. Um quilómetro(zito) de subida a pique. A paisagem é formidável, preenche-nos a alma, renova-nos o espírito, enche-nos de coragem. Lá em cima, vê-se a Catedral de Colónia.
Bem mais perto, uma piscina olímpica.


Reparei que no meio do Reno, aqui perto, há uma ilha com uma quinta e uma casita daquelas que - no mínimo - tem 20 assoalhadas.

Enfim, do alto da montanha verde, sinto-me em casa.